A presidente Dilma Rousseff cobrou nesta
segunda-feira, 27, de 12 ministros que mobilizem as bancadas de seus
partidos para impedir que propostas pedindo o seu afastamento do cargo
contaminem a pauta do Congresso a partir da próxima semana, quando
terminar o recesso parlamentar. Com receio de que o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), admita a tramitação dos pedidos de
impeachment antes mesmo dos protestos marcados para 16 de agosto, o
governo iniciou uma estratégia para pôr um freio de arrumação na base
aliada.
Em reunião com o vice-presidente Michel Temer e os
ministros, na tarde de ontem, Dilma pediu ajuda para garantir apoio
político no Congresso e evitar as manobras de Cunha, que rompeu com o
governo após o lobista Júlio Camargo, delator da Operação Lava Jato,
acusá-lo de receber US$ 5 milhões em propina. Dilma disse no encontro
que o caso de corrupção na Petrobrás, revelado pela Lava Jato, provocou
instabilidade política e econômica. Segundo dois ministros ouvidos pelo
Estado, a presidente observou que, por causa da sucessão de escândalos, o
Produto Interno Bruto (PIB) caiu um ponto.
A preocupação de Dilma
é com o agravamento da crise em agosto, quando o Congresso retoma suas
atividades, e com os protestos de rua pelo impeachment convocados em
todo o País que ontem ganharam o apoio formal do PSDB, principal partido
de oposição. Segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), os tucanos vão
utilizar inserções partidárias de TV na próxima semana para estimular a
participação popular nos atos pró-impeachment.
Ao falar sobre os
planos do governo para superar dificuldades, Dilma reforçou o pedido
para que ministros conversem com deputados e senadores dos partidos
aliados com o objetivo de impedir, também, a votação da chamada
“pauta-bomba”, que aumenta as despesas e coloca sob risco o ajuste
fiscal. Ela chegou a citar o projeto que foi obrigada a vetar, aumentado
os salários do Judiciário em até 78,5%.
Na quinta-feira, Dilma
vai se reunir com 27 governadores, em mais uma tentativa de obter
sustentação política. “Se esperar só da União, não há solução. Eu acho
que os governadores serão bons articuladores, especialmente em benefício
dos Estados”, comentou Temer, após a reunião de ontem. “Quando se tem
aumento de despesas na área federal, isso repercute em cascata nos
Estados. De modo que eles serão bons aliados.”
Novo tom. Dez dias
depois de romper formalmente com o governo, Cunha disse ontem, durante
um almoço com empresários em São Paulo, que vai tratar “de forma técnica
e jurídica” os pedidos de impeachment que foram protocolados na Câmara e
que, nos casos em que houver fundamento, os pareceres serão acolhidos.
O
discurso do peemedebista aos empresários reunidos pelo Grupo de Líderes
Empresariais (Lide) marca uma mudança de tom em relação às suas
intervenções sobre o tema. Durante um evento organizado pelo mesmo grupo
em abril, na Bahia, Cunha rechaçou prontamente a ideia de acolher os
pedidos de impeachment contra a presidente.
Naquela ocasião, o
PSDB ensaiava apresentar um pedido em conjunto com as demais siglas de
oposição. “O que vocês chamam de pedalada é a má prática de se adiar
investimento para fazer superávit primário. Isso vem sendo praticado nos
últimos 15 anos sem nenhuma punição”, afirmou.
Nesta segunda, diante da mesma plateia, o discurso foi outro. “Vamos tratar tudo e todos de forma técnica e jurídica.
Havendo
fundamento, o processo será analisado.” Em um sinal de que poderia usar
o impeachment como mais uma forma de desgastar o governo, Cunha
encaminhou ofício para que todos os responsáveis pelos pedidos
apresentados até o começo do recesso adequassem seus documentos às
normas do regimento. O procedimento não é usual. Normalmente, os pedidos
fora do formato exigido são imediatamente arquivados.
Aos
empresários, entretanto, o deputado afirmou que não pretende “incendiar”
o cenário político. “Eu vou separar muito bem isso. Vou ter até uma
cautela, para não antecipar meu julgamento, ou parecer que qualquer tipo
de posicionamento tem a ver com a mudança do meu posicionamento
político, que eu anunciei publicamente”, disse. “O impeachment não pode
ser tratado como recurso eleitoral”, concluiu.