Fragilizada politicamente e administrando uma economia em frangalhos,
unindo inflação, juros e desemprego e alta e contração acelerada do
Produto Interno Bruto (PIB), a presidente Dilma Rousseff vê o Congresso
Nacional destruindo o tênue ajuste fiscal desenhado pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy. Projetos aprovados recentemente por deputados e
senadores já aumentaram em quase R$ 85 bilhões o prejuízo nos cofres da
União. Na ponta do lápis, isso seria quase R$ 20 bilhões a mais do que a
meta original de superávit primário estipulada pelo governo — R$ 66
bilhões. Seria, porque, diante do atual quadro negativo, o senador
Romero Jucá (PMDB-RR) já propôs a Levy diminuir essa projeção para R$
22,1 bilhões.
"A impressão é de que aqui, no Congresso Nacional, as eleições não
acabaram”, reclamou o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral
(PT-MS). Há duas semanas, o plenário do Senado impôs uma derrota
acachapante ao Planalto ao aprovar o reajuste de 59,9% aos servidores do
Judiciário, o que provoca um rombo de R$ 25,7 bilhões aos cofres
públicos ao longo dos próximos quatro anos. O resultado de 62 a 0 foi
influenciado, em grande parte, pelo buzinaço feito por um grupo de
servidores fora do Congresso e pela pressão feita por outro no ouvido
dos senadores. “Com uma barulheira dessas e um governo com 9% de
aprovação de popular, fica difícil convencer os aliados a votarem contra
os servidores”, reclamou um articulador palaciano.